Descrição
A carreira de Petri como professor e pesquisador foi longa. Aposentado em 1985, deu aulas por mais 10 anos no IGc-USP e orientou estudantes até seus últimos dias. Por causa de sua trajetória pessoal e profissional, ele enfatizava que era naturalista, não geólogo.
Petri ingressou em 1942 no curso de história natural da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP – não havia ainda curso de geologia em São Paulo. “O clima tenso dos últimos dias da Segunda Guerra Mundial tingia o nosso cotidiano de uma aura de preocupação, trazendo profundas incógnitas sobre o futuro; éramos ocupados por um senso de responsabilidade, talvez pesado demais para a nossa idade”, ele escreveu no livro Crônicas da paleontologia brasileira, organizado por Rafael Delcourt e Renato Pirani Ghilardi (Letra1, 2022). “Na época, havia em média 10 alunos em cada classe. Não havia espaço para reclamações, intrigas ou preguiça, pois compartilhávamos um sentimento comum em iniciar a história da geologia no Brasil.”
Formado em 1944, Petri trabalhou por quase um ano no Instituto Geográfico e Geológico de São Paulo, antes de ingressar no doutorado em história natural na USP, em 1945. Orientado inicialmente pelo geólogo americano Kenneth Edward Caster (1908-1992), que foi para os Estados Unidos em 1947, e depois pelo geólogo alemão Viktor Leinz (1904-1983), ele estudou fósseis marinhos do Paraná com idade de 419 milhões a 370 milhões de anos. Concluído em 1948, seu doutorado apresentou uma nova abordagem para a época, chamada de paleontologia estratigráfica, que associa os fósseis às camadas geológicas onde foram encontrados.
Ele começou a se interessar por microfósseis – restos de esqueletos de organismos microscópicos, com milésimos de milímetro a poucos centímetros de comprimento – quando Antônio Rocha Penteado, um colega do Departamento de Geografia da FFCL, entregou-lhe lâminas de calcário trazidas do Pará. Elas continham muitos microfósseis de organismos unicelulares marinhos conhecidos como foraminíferos. Para estudá-los, conseguiu uma bolsa no Cushman Laboratory of Foraminiferal Research (hoje Cushman Foundation for Foraminiferal Research), nos Estados Unidos. Ele estava lá quando a direção do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), por indicação de Leinz, convidou-o para estudar os fósseis de áreas de sondagens. Petri deixou a USP e em 1950 começou a trabalhar para o CNP em Belém, onde montou o primeiro laboratório de micropaleontologia do Brasil. Em 1954, quando o CNP se transformou na Petrobras, ele reingressou na USP.
Professor e gestor
No IGc-USP, Petri fez mapas paleogeográficos, com a distribuição de animais marinhos ao longo da costa brasileira há milhões de anos, e descreveu dezenas de novas espécies de foraminíferos – a descrição mais recente, de espécies da península Antártica com idade entre 22 milhões e 11 milhões de anos, foi apresentada em um artigo de janeiro de 2022 na Journal of Paleontology.
Na USP, foi também diretor do IGc de 1974 a 1977 e do Museu Paulista de 1978 a 1981 e um dos fundadores e o primeiro presidente da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) de 1976 a 1983. “Ele não sossegava”, conta Ana Góes. “Até os 90 anos saía para trabalhos de campo.”
Petri cresceu em uma família de músicos: o pai e o irmão tocavam violino, a mãe bandolim e a irmã piano. “Eu não me tornei músico porque nunca tive paciência para estudar música”, ele contou no livro Setembrino Petri: Do Proterozoico ao Holoceno, editado por Rômulo Machado, Ana Maria Góes, Maria Cristina de Moraes e Andrea Bartorelli (Sociedade Brasileira de Geologia, 2018). “Até tentei tocar violoncelo, mas enjoei, tem de praticar muito.”
Mas o gosto pela música se manteve, e ele gostava muito de ópera. “Eu estava aprendendo a gostar de ópera com ele”, conta Góes.
Membro mais antigo da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Petri deixou a esposa, Aracy, os filhos Rogério e Giselle, os netos Alexis, Raissa e Mariela e os bisnetos Eleonora e Dante.
Fonte: https://revistapesquisa.fapesp.br/um-naturalista-entre-geologos/